Como foi a conversão de Paulo?
Notas sobre o artº de Ariel Alvarez Valdez, trad. de Lopes Morgado em Revª Bíblica nº 216, págs. 100-107,Maio/Junho de 2008
1- Queda sem cavalo e luz para a cegueira
Damasco distava 230 km de Jerusalém e Paulo para lá se dirigia, provavelmente a pé, não em cavalo como muitos quadros representativos assim o apresentam. Às portas de Damasco, uma poderosa luz o envolveu, bem como aos seus companheiros e lançou-o por terra . Então ouviu uma voz: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” Ele respondeu. “Quem és tu Senhor?” Respondeu: “Eu sou Jesus a quem tu persegues. Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tens a fazer”. Saulo, cego pela luz intensa que recebera, entrou em Damasco levado pelos companheiros e aí permaneceu, em casa de um tal Judas, sem comer nem beber durante três dias, até que um certo Ananias veio ao seu encontro e lhe disse: “Saulo meu irmão, foi o Senhor que me enviou, esse Jesus que te apareceu no caminho em que vinhas, para recuperares a vista e ficares cheio do Espírito Santo”, At, 9,17. Então impôs-lhe as mãos, caíram uma espécie de escamas dos seus olhos e recuperou a vista. Ananias, instruiu-o na doutrina cristã, explicou-lhe quem era Jesus, baptizou-o e introduziu-o na comunidade local. Paulo foi introduzido na Igreja que combatera até aí e que ele considerava como seita.
2-Conversão ou vocação?
Em primeiro lugar, Paulo nunca referiu a ninguém o que experimentou naquele dia a caminho de Damasco e diz ,em Gl, 1,15-17, “[…] aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua graça, houve por bem revelar em mim o seu Filho, para que eu o evangelizasse entre os gentios e não consultei carne nem sangue nem subi a Jerusalém […]”.
Em segundo lugar, sem entrar em pormenores, não é claro nos At,9,3-4 que Paulo tenha visto Jesus mas apenas. “[…] viu-se envolvido numa intensa luz vinda do céu e ouviu uma voz” que lhe falava, mas ele é suficientemente explícito em 1ªCo, 9,1: “[…] não vi Jesus nosso Senhor?” E em 1ªCo, 15,8: “Em último lugar, apareceu-me também a mim”.
Em terceiro lugar, nas suas cartas, diz claramente que tanto a sua vocação como o evangelho que pregava o tinha recebido directamente de Deus, como em Gl, 1,11:
“Faço-vos saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado, não o conheci à maneira humana, pois eu não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por uma revelação de Jesus Cristo “. Pelo contrário, os Actos, falam em Ananias como se disse no ponto 1.
3-“Lendas de Conversão” judaicas
No 2ºLivro dos Macabeus, capº 3, lido na última aula, fala-se em Heliodoro, ministro de Seleuco IV da Assíria, que ía saquear o tesouro do Templo de Jerusalém e caiu por terra em cegueira total, só recuperando a vista por interferência de um judeu piedoso, que o ajudou na sua conversão, recebendo a missão de anunciar em toda a parte a grandeza de Deus. Afirma, Ariel Alvarez Valdez:
“Existem muitas outras lendas judias que contam, do mesmo modo, a conversão de algum personagem inimigo de Deus. Por isso, não devemos considerar os pormenores da conversão de S. Paulo como históricos, mas antes, como género literário convencional”.
4- O evangelho “narrativo” de Lucas
O diálogo de “aparição” consta normalmente de quatro elementos, também referidos na aula:
a)-A dupla menção do nome da pessoa deste descritivo: Saulo, Saulo; Moisés, Moisés no episódio da sarça ardente, Ex,3,2-10; Abraão, Abraão no sacrifício de Isaac Gn,22,1-2; e Samuel, Samuel na sua vocação,1º Sm,3,4-14.
b)-A pergunta do personagem, “quem és tu Senhor?”
c)-A auto apresentação do Senhor: “Eu sou Jesus a quem tu persegues”.
d)-A ordem ou encargo: “Ergue-te e entra na cidade”.
Segundo Ariel Alvarez Valdez, “[…]Lucas quis dizer aos seus leitores que Paulo tinha conversado realmente com Jesus Cristo a caminho de Damasco e que não tinha sido mera alucinação, […]e que foi uma experiência inefável, impossível de contar com palavras”.
sábado, 14 de fevereiro de 2009
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