BITTASI, S., «“Per scegliere ciò che conta di più” (Fil 1,10). Il criterio cristologico dello scegliere nella lettera di san Paolo ai Filippesi», in Rassegna di Teologia XLVII, 6 (2006), pp. 831-849.
O artigo de Stefano Bittasi analisa o critério cristológico do escolher na Carta de são Paulo aos Filipenses.
O autor, retomando a tese de Cullmann[1], mostra como o verbo dokimazein (“discernimento”) seja a chave de toda a moral neotestamentária, enquanto «capacidade de tomar em todo e qualquer momento a decisão ética conforme ao Evangelho, coerentemente com o conhecimento do acontecimento da salvação».
Partindo da constatação de que o verbo em questão abarca em si, no grego, uma vasta gama de significados, o artigo centra-se no sentido com que são Paulo fala aos Filipenses, em Fil 1,10. Aqui, dokimazein aponta para o discernimento em ordem a uma escolha ética. Antes de entrar na análise desse versículo, Bittasi apresenta as outras passagens em que Paulo usa o verbo com o mesmo significado:
1Ts 5,21-22: «Examinai tudo (panta de dokimazete), guardai o que é bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal».
Rm 2,17-18: «Mas, se tu gostas que te chamem judeu, te apoias na Lei e te glorias de Deus, conheces a sua vontade e sabes, instruído pela Lei, o que há de melhor a fazer (dokimazeis ta diapheronta) […]».
Rm 12,2: «Não vos acomodeis a este mundo. Pelo contrário, deixai-vos transformar, adquirindo uma nova mentalidade, para poderdes discernir (eis to dokimazein) qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito».
O autor passa, agora, a analisar a passagem da Carta aos Filipenses: «E é por isso que eu rezo: para que o vosso amor aumente ainda mais e mais em sabedoria e toda a espécie de discernimento, para vos poderdes decidir pelo que mais convém (eis to dokimazein ta diapheronta), e assim sejais puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo, repletos do fruto da justiça, daquele que vem por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus».
É importante sublinhar o contexto em que Paulo escreve aos Filipenses. Bittasi, juntamente com outros autores, defende a tese segundo a Carta aos Filipenses seria a sua última Carta. Seria, então, quase um “testamento espiritual” do Apóstolo, prisioneiro em Roma e consciente de que está perto a sua morte. Paulo opera uma leitura do percurso de Jesus Cristo, do seu phronein, como exemplar do dar a própria vida / morrer do discípulo. Torna-se um critério de verificação do próprio discipulado. Não por acaso, o não querer andar por este caminho é definido como um ser inimigos da cruz de Cristo (cf. Fil 3,18). Toda a Epístola mostra como a situação existencial actual de Paulo não é mais do que a aplicação desse único modo de viver a fé cristã (cf. 2,3-8; 2,20-21; 2,30; 3, 7-11; 3, 18-20).
A raiz de qualquer comportamento ético encontra-se no phronein en Christo(i) Iesou (ou seja, a expressão de Fil 2,5: «Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus»), como verdadeiro “lugar” em que se opera aquele discernimento que nasce do amor e do conhecimento cristologicamente orientados, com a consciência de que tudo o resto é lixo (cf. Fil 3,7-11)!
Finalmente, analisando o processo dos Exercícios Espirituais de santo Inácio, o autor encontra um paralelismo com o discernimento espiritual de soa Paulo. Santo Inácio, ao propor o mesmo dinamismo que ele próprio viveu, retoma o itinerário que já foi de são Paulo. Na oração do Sume et suscipe da contemplação para alcançar o Amor (234) encontramos o ponto de chegada do inteiro caminho dos Exercícios: o poder orientar-se, na própria existência concreta, para escolher o que mais conta. E isto, individuado no dom total de si, por aquele que já não põe ao centro os próprios interesses, mas está disposto a dizer…tudo dispões segundo a tua vontade. Dá-me o teu amor e a tua graça, e só isto me basta. Conclui, portanto, o autor: «Como não reconhecer aqui o eco da oração de Paulo de Fil 1,9-11?».
Paolo Ciampoli
O artigo de Stefano Bittasi analisa o critério cristológico do escolher na Carta de são Paulo aos Filipenses.
O autor, retomando a tese de Cullmann[1], mostra como o verbo dokimazein (“discernimento”) seja a chave de toda a moral neotestamentária, enquanto «capacidade de tomar em todo e qualquer momento a decisão ética conforme ao Evangelho, coerentemente com o conhecimento do acontecimento da salvação».
Partindo da constatação de que o verbo em questão abarca em si, no grego, uma vasta gama de significados, o artigo centra-se no sentido com que são Paulo fala aos Filipenses, em Fil 1,10. Aqui, dokimazein aponta para o discernimento em ordem a uma escolha ética. Antes de entrar na análise desse versículo, Bittasi apresenta as outras passagens em que Paulo usa o verbo com o mesmo significado:
1Ts 5,21-22: «Examinai tudo (panta de dokimazete), guardai o que é bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal».
Rm 2,17-18: «Mas, se tu gostas que te chamem judeu, te apoias na Lei e te glorias de Deus, conheces a sua vontade e sabes, instruído pela Lei, o que há de melhor a fazer (dokimazeis ta diapheronta) […]».
Rm 12,2: «Não vos acomodeis a este mundo. Pelo contrário, deixai-vos transformar, adquirindo uma nova mentalidade, para poderdes discernir (eis to dokimazein) qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito».
O autor passa, agora, a analisar a passagem da Carta aos Filipenses: «E é por isso que eu rezo: para que o vosso amor aumente ainda mais e mais em sabedoria e toda a espécie de discernimento, para vos poderdes decidir pelo que mais convém (eis to dokimazein ta diapheronta), e assim sejais puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo, repletos do fruto da justiça, daquele que vem por Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus».
É importante sublinhar o contexto em que Paulo escreve aos Filipenses. Bittasi, juntamente com outros autores, defende a tese segundo a Carta aos Filipenses seria a sua última Carta. Seria, então, quase um “testamento espiritual” do Apóstolo, prisioneiro em Roma e consciente de que está perto a sua morte. Paulo opera uma leitura do percurso de Jesus Cristo, do seu phronein, como exemplar do dar a própria vida / morrer do discípulo. Torna-se um critério de verificação do próprio discipulado. Não por acaso, o não querer andar por este caminho é definido como um ser inimigos da cruz de Cristo (cf. Fil 3,18). Toda a Epístola mostra como a situação existencial actual de Paulo não é mais do que a aplicação desse único modo de viver a fé cristã (cf. 2,3-8; 2,20-21; 2,30; 3, 7-11; 3, 18-20).
A raiz de qualquer comportamento ético encontra-se no phronein en Christo(i) Iesou (ou seja, a expressão de Fil 2,5: «Tende entre vós os mesmos sentimentos, que estão em Cristo Jesus»), como verdadeiro “lugar” em que se opera aquele discernimento que nasce do amor e do conhecimento cristologicamente orientados, com a consciência de que tudo o resto é lixo (cf. Fil 3,7-11)!
Finalmente, analisando o processo dos Exercícios Espirituais de santo Inácio, o autor encontra um paralelismo com o discernimento espiritual de soa Paulo. Santo Inácio, ao propor o mesmo dinamismo que ele próprio viveu, retoma o itinerário que já foi de são Paulo. Na oração do Sume et suscipe da contemplação para alcançar o Amor (234) encontramos o ponto de chegada do inteiro caminho dos Exercícios: o poder orientar-se, na própria existência concreta, para escolher o que mais conta. E isto, individuado no dom total de si, por aquele que já não põe ao centro os próprios interesses, mas está disposto a dizer…tudo dispões segundo a tua vontade. Dá-me o teu amor e a tua graça, e só isto me basta. Conclui, portanto, o autor: «Como não reconhecer aqui o eco da oração de Paulo de Fil 1,9-11?».
Paolo Ciampoli
[1] Cf. O. CULLMANN, Cristo e il tempo, Il Mulino, Bologna, 1964.
Interessante...já a Teologia Moral Fundamental tinhamos visto um texto que apresentava o verbo dokimadzein como essencial na moral paulina...«se vivemos pelo Espírito, caminhemos pelo Espírito». Amen
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