quinta-feira, 21 de maio de 2009

As "entranhas" do NT


O termo splanchna que, como vimos, é bastante importante para entender a Carta a Filémon, aparece no NT nas seguintes passagens (traduções da Bíblia dos Capuchinhos):

Lc 1,78: «graças ao coração misericordioso do nosso Deus»

Act 1,18: «depois de ter adquirido um terreno com o salário do seu crime, precipitou-se de cabeça para baixo, rebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se espalharam»

2Cor 7,15: «A sua afeição por vós aumenta ainda mais»

Fl 2,1: «Se tem algum valor uma exortação em nome de Cristo, ou um conforto afectuoso, ou uma solidariedade no Espírito, ou algum afecto e compaixão»

Col 3,12: «revesti-vos, pois, de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência»

Flm 1,7.12.20: «os corações dos santos foram reconfortados por meio de ti (…) ele, isto é, o meu próprio coração (…) reconforta o meu coração em Cristo»

1 Jo 3,17: «Se alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele?»

Coração, afecto, afeição…mas também entranhas, vísceras, intestinos. Portanto, apesar do sentido metafórico do termo ser mais utilizado, também se regista o literal, referindo-se às entranhas de Judas espalhadas pelo chão, depois de se ter enforcado. Imagem forte, sem dúvida. Mas não menos forte do que a dos outros passos, onde splanchna designa aquilo que Eurípides chamou de «a natureza íntima do homem», e onde tem uma íntima relação com agápe.

Um comentário:

  1. Sabias que…

    Na literatura grega anterior ao cristianismo, o substantivo splanchna é apenas usado na sua forma plural, designando literalmente as entranhas da vítima sacrificial, e mais concretamente os órgãos nobres do interior humano, (coração, fígado, pulmões, rins) que eram retirados das vítimas e comidos durante o banquete sacrificial. Belo petisco…

    Mas pelo século V, o termo é usado para designar anatomicamente o interior do homem na sua generalidade, ao mesmo tempo que se conserva o significado ligado aos banquetes sacrificiais.

    Isso permitiu a alguns autores criarem um belo trocadilho: um rapaz que durante um banquete sacrificial comeu demasiadas splanchna e bebeu vinho em excesso, voltando-se para a sua mãe, diz-lhe: «Ai Mãezinha, que vomito as vísceras!» ao que ela responde: «Não as tuas, meus filho, mas aquelas que comeste…» (Cf. Corpus Fabularum Aesopicarum, 47, 1).

    (in KOSTER, H., Splanchna, in KITTEL, G., Grande Lessico del Nuovo Testamento, Paideia, Brescia 1979, XII, 904-905.)

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