terça-feira, 5 de maio de 2009

A ressurreição, segundo J.D. Crossan


Já que andamos a falar da correspondência com a comunidade de Corinto nas últimas aulas, permitam-me que partilhe convosco a seguinte reflexão de um conhecido biblista. Na opinião deste autor (cf. J.D. CROSSAN, Jesus. A revolutionary biography, 1994), a ênfase no acontecimento da ressurreição não veio do grupo dos discípulos mais próximos de Jesus, mas sim de Paulo. Bastantes anos antes da conclusão do processo de escrita dos evangelhos, Paulo escreve à comunidade de Corinto, defendendo, entre outras coisas, a possibilidade e a realidade da ressurreição corporal, cf. 1Cor 15,12-20. Nesta argumentação, a ressurreição de Cristo não é vista como um privilégio especial concedido a este, o que aliás teria sido perfeitamente possível. Pelo contrário, a de Cristo é olhada como um caso particular da própria possibilidade de ressurreição dos mortos em geral. E porquê?

Para Crossan, não é inteiramente correcta a ideia de que Paulo acreditava que o fim do mundo estaria próximo. Mais que isso, para Paulo, o fim do mundo já tinha começado. A lógica é a seguinte: como fariseu, acreditava na ressurreição no fim dos tempos; portanto, se Jesus ressuscitou, o processo de ressurreição no fim dos tempos já estava em marcha. Apenas a misericórdia de Deus impedia a consumação final. Transpondo para imagens, o Titanic já bateu no iceberg, e Paulo tenta despertar os passageiros, enquanto Deus lhe dá tempo para tal.

Na teologia paulina, portanto, a ressurreição é a única forma de expressar a fé em Jesus Cristo e na sua contínua presença no meio daqueles que nele crêem. No entanto, ela [a ressurreição de Jesus] está também intimamente ligada à ressurreição geral no fim dos tempos. Assim, se o fim não está iminente (como de facto não estava), continuará a ser a ressurreição a única ou a melhor categoria teológica para exprimir esta fé? Crossan afirma que não será a única e que não deve ser tomada como normativa para outras tradições cristãs. Estará ele a dizer que a fé em Cristo não tem de passar necessariamente pelo evento da ressurreição? Opinião deveras polémica, seguramente. Alguém concorda?

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