Pretendo com este texto não tanto fazer uma exposição sobre S.Paulo mas partilhar alguns ecos do retiro que a comunidade do seminário dos Olivais teve a graça de viver e que teve precisamente em S.Paulo a sua temática principal. Parece-me enriquecedor trazer isso para o nosso blog, porque a teologia sem uma atitude orante interior a si, será irremediavelmente uma teologia redutora, não centrada na fonte donde lhe vêm todos os seus tesouros. A teologia faz-se de joelhos, e se assim é, todos os que de nós estivemos fora durante esta semana, ficando assim impossibilitados de comparecer às aulas, não mandámos propriamente a teologia dar uma curva. Pelo contrário, um retiro constitui um momento privilegiado para darmos novo sentido ao estudo da teologia e ao que ela significa para nós. Dentro deste espírito, o nosso caro S.Paulo foi para mim uma figura marcante no decurso destes dias. Não bastava já ser uma figura central da teologia, como se revelou agora para mim, uma personagem incontornável da espiritualidade cristã. Não admira por isso a sua vasta e exímia amplitude dentro do universo cristão e tal advem-lhe do facto de reflectir sempre o seu brilho para Cristo. Sem Ele, a vida de Paulo seria sempre uma odisseia, sem dúvida digna de registo, mas pouco mais que isso. Percorrer os passos de S.Paulo foi um pouco da experiência do retiro e ver que os nossos pés também cabem nas suas pegadas, é uma descoberta ímpar que somos todos chamados a fazer. Paulo faz-nos compreender que o Cristianismo é uma experiência humana, que encarna totalmente na nossa vida. É uma experiência que se faz na vida quotidiana do mundo, onde descobrimos os traços do transcendente a habitar connosco esta terra. Não se trata de algo exterior a nós, mas de uma vida que podemos tocar com estas mãos, ainda que sempre com o pressentimento de ainda não o alcançarmos totalmente. Mas é precisamente isso que nos dá o anseio de não nos darmos por satisfeitos ou de, ingenuamente pensarmos que a nossa meta está alcançada. É este desejo que podemos presenciar em Paulo e que o faz despojar-se de si, porque ele entende a certa altura, que a sua vida não é outra senão a vida de Cristo.
Pude verificar nestes dias em Paulo, a imagem do paradoxo, que tão explicitamente transparece nas palavras do próprio apóstolo. E de facto, que é o Cristianismo senão uma contínua experiência paradoxal, que parece esmagar-nos, mas ao mesmo tempo, constitui um caminho provocatório aliciante? Como se pode ser forte, quando se é fraco? Como se pode pregar num grito jubiloso, um Cristo crucificado? Como pode fazer sentido considerar tudo como lixo? Como pode um homem gloriar-se nas suas fraquezas? Como pode ser a cruz o auge do divino no meio dos homens? Como? E o mais bizarro é que isto pode tardar a fazer sentido, pode demorar uma vida a perceber. Sabemos que não vamos lá apenas com um esforço intelectual ou com um raciocínio bem estruturado. Este domínio nesta compreensão não o alcançaremos; resta-nos a esperança de que tal como aconteceu com S.Paulo é Ele que nos alcança.
sábado, 7 de março de 2009
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